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O lado cristão de Jerusalém

Para arrepiar, cúpula do Santo Sepulcro – juro que não é “photoshop”!!!

Fé e Jerusalém andam junto. Penso que, seja você católico, protestante, espírita, judeu, muçulmano, budista ou o que mais o for, a presença divina está em todos os lugares. Seja numa rua movimentada de Nova York ou numa montanha isolada na Nova Zelândia, Ele está lá – tenha o nome que tiver.

Entretanto, não posso negar que dá para sentir em Jerusalém uma energia especial, um sentimento bacana. Tentando ser um pouco cético, cheguei a cogitar que poderia ser impressão minha, ou o chamado “consciente coletivo”; mas não, existe mesmo algo especial por ali – nem que seja o afloramento da fé pessoal. E uma vez lá, não dá para não se deixar levar pelas boas vibrações deste pequeno espaço de terra.

Só para descontrair, vale aqui a piadinha simpática do Jacob do Sandermans´s:

Hoje vamos falar um pouco dos principais locais cristãos de Jerusalém.

As atrações cristãs, ficam na sua maioria no chamado Christian Quarter ou bairro cristão – salvo a Via Dolorosa, que se espalha pelo bairro árabe.

Uma das típicas placas de rua.

O Christian Quarter começa à esquerda do Jaffa Gate – Latin Patriarchate Rd e Greek Catholic Patriarchate Rd. e tem instituições religiosas de 20 diferentes “divisões” do cristianismo – eu nem imaginava que existiam tantas.

Uma das apertadas ruas do Bairro Cristão.

Apesar das ruas por ali serem bem menos pitorescas que as do bairro judeu e principalmente do muçulmano – incrivelmente movimentado e barulhento – vale muito a pena andar por ali, pois é um oásis de tranquilidade.

Quem já visitou uma cidade medieval (como Toledo na Espanha) ou um bairro mais antigo de uma cidade Européia mais antiga, vai notar algumas semelhanças.

A presença católica mais forte na área é a dos ortodoxos gregos.

Juntamente com o Muro das Lamentações e o Temple Mount, a Church of Holy Sepulchre (Igreja do Santo Sepulcro) é um dos locais mais visitados de Jerusalém.

A placa pode ser auto-explicativa, mas a sensação definitivamente não.
Dá um certo frio na barriga.
Diante da Basílica do Santo Sepulcro existe esta espécie de praça.
Entrada da Basílica.
Literalmente um lugar iluminado pela fé.

Segundo a tradição cristã, a Basílica do Santo Sepulcro é o local onde Jesus Cristo foi sepultado e de onde ressuscitou no Domingo de Páscoa. Constitui um dos locais mais sagrados da cristandade, senão o mais sagrado, juntamente com a Basílica da Natividade da qual falaremos em outro post.

Mapa da Igreja do Santo Sepulcro com as divisões conforme subdivisões do cristianismo.
Créditos Sacred Destinations.

De acordo com alguns historiadores, na seqüência da destruição de Jerusalém em 70 d.C, o imperador romano Adriano visitou a cidade em 129-130, ordenando a sua reconstrução segundo um modelo que visava fazer dela uma cidade pagã chamada Aelia Capitolina.

Logo na entrada este belo mosaico retratando os últimos momentos de Cristo.
Templo armênio na Basílica.
Um dos corredores da Basílica

O imperador ordenou que o local identificado com a sepultura de Jesus fosse coberto com terra e que nele fosse construído um templo dedicado a Vênus.

Em 313 o imperador Constantino decretou o Édito de Tolerância para com os cristãos (ou Édito de Milão), que pôs fim nas perseguições aos cristãos.

Área dedicada aos armênios.

Poucos anos depois, em 326, sua mãe Helena visitou Jerusalém com o objetivo de procurar os locais associados aos últimos dias de Cristo, vindo então a identificar o local da crucificação (a pedra denominada Gólgota) e a tumba próxima conhecida como Anastasis (“ressurreição”, em grego). Dizem que ali foi encontrada o túmulo de José de Arimatéia e as três cruzes.

Capela de Santa Helena.
O belo mosaico no chão da Capela de Santa Helena.
Mais abaixo da Capela de Santa Helena, a Capela localizada onde teriam achado a Cruz.
Prisão de Cristo.

Nove anos depois, Constantino decidiu construir um santuário apropriado no local, a Basílica do Santo Sepulcro.

Em 614, a igreja de Constantino foi destruída pela invasão dos persas que roubaram os seus tesouros. A basílica foi reconstruída pelos bizantinos.

Capela de Maria Magdalena.
Catholicon, a maior área da Basílica.

No ano de 638, a cidade de Jerusalém passa para as mãos dos muçulmanos. Os primeiros líderes muçulmanos de Jerusalém revelaram-se tolerantes para com o Cristianismo. Porém em 1009 o califa Al-Hakim ordenou a destruição de todas as igrejas de Jerusalém, incluindo o Santo Sepulcro. A notícia da sua destruição foi um dos fatores que deram causa às Cruzadas.

Sinais dos tempos das Cruzadas nas típicas cruzes talhadas na parede.

Após a tomada de Jerusalém, em 1099, os Cruzados construíram uma nova basílica que, no seu essencial, é a que se encontra hoje no local. A nova igreja foi consagrada em 1149.

Debaixo da igreja encontra-se a cripta de Santa Helena, local onde a mãe de Constantino afirmou ter encontrado a verdadeira cruz na qual Jesus foi crucificado.

Com o regresso de Jerusalém ao domínio islâmico, Saladino proibiu a destruição de qualquer edifício religioso associado ao Cristianismo.

Finalmente, no século XIV, o local começou a ser administrado por monges católicos e por monges ortodoxos gregos.

No século XVIII, procedeu-se à reparação da cúpula da Igreja do Santo Sepulcro, mas em 1808 um incêndio destruiu o local e uma nova restauração iniciou-se em 1810. Novos restauros ocorrem entre 1863 e 1868.

A igreja sofreu novos danos por conta de um terremoto em 1927, o que levou ao escoramento do Santo Sepulcro conforme visto hoje em dia. É justamente no centro da Basílica que está localizada a chamada Capela do Santo Sepulcro, o lugar que supostamente teria servido como túmulo para Jesus Cristo.

O Santo Sepulcro e as escoras para sustentar a estrutura danificada pelo terremoto. 
Dependendo do horário, tem fila para entrar.
Decoração da entrada do pequeno recinto em que Jesus teria sido sepultado.
Detalhe da decoração.
O local é muito apertado, tanto que entram apenas 5/6 pessoas por vez. 

O tempo de permanência ali dentro, algo como 1 minuto (se muito) é rigidamente controlado pelos religiosos (ora um padre católico, ora um monge  franciscano, ora um padre ortodoxo grego…), portanto não pense que dá para ficar ali dentro apreciando ou rezando “por horas”.
Sugiro, escolher os horários menos concorridos e se possível ir mais de uma vez, assim numa você aprecia o lugar e na outra, se quiser, reza. 

Bem, você deve estar se perguntando: Enfim, o que existe ali dentro? Bom, como fotos são impossíveis pela falta de espaço e pouquíssima luz (flash é proibido), fico devendo. Em linhas bastante gerais, tem um altar de mármore, ricamente decorado, e muitas, muitas lanternas colocadas pelos religiosos. Definitivamente é muito bonito. 

Particularmente, eu esperava sentir uma emoção muito grande ao entrar no recinto, mas isso vai de pessoa para pessoa e do que elas pensam a respeito de vários assuntos. As minhas, ficaram, definitivamente, para a Igreja da Natividade.

Abaixo, vídeo do interior da Basílica e do Santo Sepulcro propriamente dito que dão uma ideia geral de como o lugar é e do que tem ali dentro.

Os fiéis aproveitam a ferragem que escora o Santo Sepulcro para acender velas.
Hora de simplesmente agradecer …

Desde o tempo dos cruzados, os recintos e o edifício da Basílica do Santo Sepulcro tornaram-se propriedade das três maiores denominações – os greco-ortodoxos, os armênio-ortodoxos e os católicos romanos. Outras comunidades – os copta-ortodoxos egípcios, os etíope-ortodoxos e os sírio-ortodoxos – também têm certos direitos e pequenas propriedades dentro ou a pouca distância do edifício. Os direitos e os privilégios de todas estas comunidades são protegidos pelo Status Quo dos Lugares Santos (1852), conforme estabelece o Artigo LXII do Tratado de Berlim (1878).

E justamente para evitar o conflito entre as várias divisões da igreja católica que dividem o controle da igreja, a chave da igreja tem duas famílias muçulmanas como guardiãs. O representante de uma família entrega a chave para o outro, cuja função é abrir e trancar a porta, de manhã e de noite. Diariamente, os dois se dirigem à igreja juntos – infelizmente não consegui vê-los.

Quem diria que uma igreja cristã, tão disputada na história e que gerou o começo das Cruzadas, justamente contra os muçulmanos viria a ser guardada por estes para evitar a briga entre cristãos? O mundo dá voltas mesmo.

Abaixo, alguns mosaicos das cúpulas da Basílica. 

Um detalhe interessante que o visitante não pode deixar passar desapercebido é a peça de mármore existente no chão da igreja logo na entrada. Segundo a crença, esta pedra de mármore com lanternas dependuradas seria o local onde Jesus foi lavado após sua morte – é comum ver cristãos ali rezando ou benzendo terços e outros objetos religiosos recém comprados.

A chamada Pedra da Unção
Detalhe da Pedra da Unção.
Lanternas decorando a Pedra da Unção logo na entrada da Basílica.
Fé. 

Existe uma grande divergência se este seria ou não o local da sepultura de Jesus, isto porque segundo alguns estudiosos, a proximidade do Santo Sepulcro com a Old City contraria alguns relatos históricos – Cristo teria sido crucificado fora das muralhas. Entretanto, alguns defendem que as muralhas nos tempos de Cristo não estavam na posição atual.

Para o descontentamento da Igreja Católica, alguns historiadores defendem que o local do santo sepulcro seria na verdade o Garden Tomb, a respeito do qual falaremos numa outra oportunidade.

Bom, é uma discussão complexa e que rende bons argumentos para ambos os lados, coisa para Discovery Chanel e National Geographic. Na dúvida, vá, visite os dois sítios e deixe a sua fé lhe dizer qual é o real para ti.

Assim como outros locais religiosos, vestir-se de forma respeitosa é regra – mulheres devem evitar shorts ou bermudas curtas e ombros descobertos – como fomos no verão, minha esposa usou uma espécie de “kit igreja” com duas echarpes; funcionou!

A Basílica tem entradas tanto pela Santa Helena Rd. / Dabbaga Rd, quanto pelo Souq Khan as-Zeit St. Abre diariamente, de abril a setembro das 5h00 às 21h00 e de outubro a março das 4h00 às 20h00 – sugiro ir logo cedo para evitar a grande quantidade de turistas, não só pelas filas, mas também para curtir a tranquilidade do local. O acesso é gratuito.

Embora não exista um site oficial, sugiro estes que têm boas fotos e informações históricas: Sacred Destinantions e 360 TR com fotos em 360º.

Outro ponto muito visitado de Jerusalém é a Via Dolorosa (Via Sacra). Trata-se do caminho que se acredita ter sido o que Jesus percorreu com a cruz entre a Capela da Flagelação e o Santo Sepulcro. 

O caminho é todo pontuado pelas 14 estações, ou seja, lugares em que ocorreram os fatos bíblicos daquele dia. Tais estações foram marcadas no século VII pelos peregrinos bizantinos e estão todas marcadas com placas indicativas.

A Via Dolorosa corta boa parte da Velha Jerusalém.
As estações estão marcadas com placas como esta.
1ª Estação: Jesus é condenado à morte.
2ª Estação: Jesus recebe a cruz.
Na 2ª Estação, construíram a Igreja da Flagelação.
Via Dolorosa.
3ª Estação: Jesus cai pela primeira vez.
4ª Estação: Jesus encontra Maria.
Para marcar a 4ª Estação também foi construída uma bela igreja.
Não deixe de descer à cripta, muito bonita e tranquila
5ª Estação: Simão Cirineu ajuda Jesus.
Suposta marca onde Jesus teria se apoiado na 5ª Estação.
6ª Estação: Verônica limpa o rosto de Jesus.
7ª Estação: Jesus cai pela segunda vez.
8ª Estação: Jesus fala às mulheres de Jerusalém.
Já dentro do Monastério Etíope, na 9ª Estação, Jesus cai pela terceira vez.

A 10ª (Jesus é despojado de suas vestes); 11ª (Jesus é pregado na cruz); 12ª (Jesus morre na cruz); 13ª Estações (Jesus morto nos braços de sua Mãe); por ficarem dentro do Santo Sepulcro, têm a sua localização um tanto quanto difícil de serem identificadas. Já a 14ª (Jesus é enterrado) é marcada pelo Santo Sepulcro.

Dá para seguir o caminho por conta própria, mas o jeito mais legal é acompanhar a procissão dos franciscanos, que carregam cruzes. O evento acontece todas as sextas feiras, às 15h, de outubro a março, e às 16h, de abril a setembro – infelizmente não consegui assistir.

Vale aqui também uma visita à página do Sacred Destinations

Próximo à Igreja do Santo Sepulcro, mais especificamente nos seus fundos, fica o Ethiopian Monastery, um monastério muito simples, no qual vive um grupo de monges etíopes.

Pátio do monastério.
Simplicidade absoluta.

As construções ocupadas pelos monges foram erguidas pelos cruzados, exatamente onde ficava a basílica construída por Constantino. É possível notar a diferença na decoração pelas imagens de santos etíopes e da Rainha Sheeba da Etiópia, aquela da Arca da Aliança que mencionamos no post anterior.

Um oásis de tranquilidade.

Outra igreja importante da cidade é a Lutheran Church of the Redeemer, uma igreja construída em 1898. Apesar de ter mais de 100 anos, esta igreja é moderna se comparada às demais construções da Velha Jerusalém.

Lutheran Church.
A ampla nave da Igreja Luterana.
Vitral e órgão da igreja.

Até mesmo por ser uma igreja protestante, seu interior contrasta muito com as igrejas católicas da cidade.

Curiosamente, ela foi construída em uma área concedida pelo Império Otomano ao Kaiser Wilhelm I da Prússia.

Apesar do esforço – parece que os degraus não terminam nunca, recomendo a subida da torre, de onde se obtém as melhores vistas da Old City.

Escadas estreitas
Levam ao topo da torre, de onde se tem belas vistas do Temple Mount
Do Muro das Lamentações.
E do Santo Sepulcro.

Próximo post, vamos nadar, ou melhor, flutuar no Mar Morto!

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1 comentário

Anônimo 21 de fevereiro de 2013 at 01:46

Excelente descrição…

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