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Istambul: Santa Sofia e arredores

Santa Sofia vista da praça Sultan Ahmet.

Se tem uma região de Istambul que é imperdível é a de Santa Sofia, o edifício que já foi literalmente de tudo na sua longa história.

Como lhes disse anteriormente, sempre que os muçulmanos dominavam um território, ao invés de destruir as construções (como os bárbaros fizeram em Roma, por exemplo), eles tinham o interessantíssimo (e genial) hábito de simplesmente adaptar as edificações para o uso que lhes era necessário. Isso aconteceu de forma contundente em Istambul, capital da Turquia.

A história, e os turistas agradecem porque Istambul é o que é em muito por causa disso.

E é justamente por esta mentalidade que um dos prédios mais imponentes de Istambul, e mais famosos da história ainda está em pé.

A Basílica de Santa Sofia (Aya Sofya em turco), cujo significado é “Sagrada Sabedoria”, foi construída pelo Império Bizantino para ser a catedral de Constantinopla.

Entrar na Santa Sofia é algo para ser saboreado desde o hall de entrada.
Ao nos aproximarmos da porta principal, já vendo os icônicos discos caligráficos, uma deliciosa ansiedade começa a tomar a conta da gente. 
Mas ela logo é tomada por um “Uaaau!”, daqueles de ficar de boca aberta por alguns segundos.

E que catedral!!! Só de olhar, pelo tamanho e beleza do local, é difícil imaginar como conseguiram construir algo tão belo e grandioso com recursos tão rudimentares.

Basta olhar para a cúpula para ter-se ideia do tamanho da Santa Sofia.

A estrutura que vemos hoje foi construída entre 532 e 537 no local onde  existia uma antiga igreja que, em 532, foi severamente danificada num incêndio durante a Revolta de Nika.

As obras fora supervisionadas pelo próprio imperador Justiniano. Dizem que ao ver a obra final dos arquitetos Isidoro de Mileto e Antemio de Tralles, Justiniano teria dito “Salomão, eu te superei!”. Olha, se superou ou não eu não sei, mas que a Aya Sofya é enorme é.

No detalhe, os lustres da Santa Sofia.
São tantos detalhes para ver no alto que se você olhar ao seu redor, terá a impressão que todos sairão de lá com torcicolo.
O amplo espaço interno dá uma indescritível sensação de “como somos pequenos”.
Não deixe de ir ao mezanino.

Olha, já tive a oportunidade de entrar em uma boa quantidade de igrejas por ai, mas nunca vi nada como a Aya Sofya. Ao passar pela porta, você é tomado por um misto de deslumbramento e uma enorme sensação de “como sou pequeno”. Algo indescritível – gostaria muito de ter visto a versão original.

E não é para menos. Estamos falando do maior exemplo de arquitetura bizantina existente e uma das maiores joias de Istambul.

Os vitrais são bem diferentes daqueles das igrejas europeias.

O fato é que nunca vi tanto mármore na vida. Para dar uma ideia do tamanho, Aya Sofya tem uma abóbada central de 31m de diâmetro e 55,6m de altura. 

E ai convenci o leitor a ir visitá-la? Anote ai, é uma das atrações imperdíveis de Istambul!!!

Durante quase mil anos a ela permaneceu em funcionamento como catedral de Constantinopla, servindo inclusive de palco para a coroações imperiais.

Tudo ia muito bem no Império Bizantino até que em 1453 a cidade foi tomada pelos muçulmanos comandados pelo Sultão Mehmed II.

Após a tomada de Constantinopla, os muçulmanos adicionaram à Santa Sofia os discos caligráficos ao lado do altar,
Este minbar, um púlpito para sermões às sextas-feiras;
Este balcão para o sultão; 
E é claro, um belíssimo mihrab para indicar a direção de Meca.

Mas não pense que eles saíram por Istambul destruindo tudo o que viam pela frente.

Inteligentemente, os muçulmanos resolveram fazer algumas adaptações e transformá-la em uma enorme mesquita.

Quem diria que duas culturas e religiões (aparentemente) tão diferentes poderiam criar algo tão belo???
A Santa Sofia é um lugar para ser visto em detalhes, como estes mosaicos adornando o mezanino.

Genial! Custo zero para os muçulmanos que agora tinham um belíssimo lugar para rezar, e para os turistas, que mais de 500 depois podem apreciar este edifício único.

Interessante é que, dado o sucesso de Aya Sofya, todas as mesquitas construídas nos 500 anos seguintes, mantiveram o mesmo padrão de construção, como por exemplo as Mesquitas Shehzade, Solimão e Rustem Pasha.

Uma das maiores sacadas dos muçulmanos foi simplesmente cobrir os mosaicos cristãos com emplastro. Isto os preservou consideravelmente.

Especial atenção aos mosaicos, principalmente aos mais famosos que mostram Jesus ladeado pelo Imperador Constantino IX e sua esposa; outro onde o arcanjo Gabriel é representado.

Logo na entrada, uma pequena amostra…
Virgem Maria com o menino Jesus no colo acima do altar.
Ao lado, arcanjo Gabriel.
Destalhe de Jesus no famoso moisaico de Deësis.
O mosaico inteiro e abaixo uma representação de como ele deveria ser originalmente.
Jesus entre o Imperador Constantino IX e a Imperatriz Zoe.
Neste, a Virgem Maria e o menino Jesus entre o Imperador João II e a Imperatriz Irene.

Talvez o mais tipicamente muçulmano na Santa Sofia sejam as inscrições de caligrafia. Elas significam Alá, Maomé e de Hasan e Hussein, dois dos netos de Maomé (reverenciados como mártires). 

Duas das quatro inscrições.
E as outras duas acima do minber, o púlpito de Murat III. 

Tão somente no ano de 1935, é que ela deixou de funcionar como mesquita e converteu-se em museu. Então, grave ai, hoje Santa Sofia não é mais igreja, não é mais mesquita, é um museu para ser admirado por todos. Isto que é exemplo de tolerância religiosa!!! Entendeu por que preferi não usar o termo basílica?

Não deixe de subir ao mezanino…
…de onde se tem, talvez, a mais bela vista da Santa Sofia.
Este pequeno quadrado de mármore decorado, ao lado do altar, era o local no qual os reis bizantinos eram coroados.
Uma brincadeira com a regulagem da máquina fotográfica dá a ideia de quantos lustres existem!

O único ponto negativo é que, apesar dos restauros feitos nos anos anteriores, a Santa Sofia ainda precisa sim de muito no que se refere à sua conservação. Ok, eu sei que estamos falando de um edifício com quase 1500 anos de idade, mas espero que as autoridades locais se empenhem na conservação deste patrimônio da humanidade.

O estado do piso do mezanino assusta.
Já o desgaste do degrau da porta principal nos dá a maravilhosa noção de quantas pessoas passaram ali nestes quase que 1500 de história da Santa Sofia. Incrível!

Anote ai. Fica na Ayasofya Meydani e funciona diariamente das 9h30 às 16h30 – não abre às segundas. O ingresso custa 20 TL.

Não deixe de ver a bela Fonte de Abluções de 1740 ao lado da Santa Sofia.

Ali nos arredores da Basílica, vale dar uma conferida na Cisterna da Basílica(Yrebatan Sarayi).

Um espelho d’ água com quase 1500 anos de idade.

Esta enorme estrutura subterrânea que é uma das principais atrações da cidade, foi erguida no reinado de Justiniano, mais especificamente em 532, e servia para abastecer de água a cidade naquele período.

Com gigantescos 70 metros de largura por 140 de comprimento, na sua construção foram usadas 336 colunas de diferentes estruturas romanas colocadas a cada 4 metros, em 12 linhas de 28 colunas cada. São 10 mil metros quadrados de superfície com um pé-direito de 8 metros. A capacidade total de armazenamento de água é de 80 mil metros cúbicos.

Note que é possível caminhar e ver apenas parte do complexo, pois no século 19 uma grande área foi fechada com tijolos.

Só não me pergunte como estes peixes foram parar lá. Certamente não foi junto com as moedas…
Veja que cada coluna tem um estilo diferente, provando que elas foram reaproveitadas de outros lugares.

Duas cabeças de medusa foram usadas como base de colunas.

Uma das duas Medusas.

Para quem não sabe, Medusa foi um mito, uma mulher que segundo a lenda teve seus cabelos transformados em cobras e qualquer um que olhasse para ela viraria pedra. Uma das imagens está de cabeça para baixo e a outra, de lado. Permanece até hoje desconhecido o motivo de uma cabeça ter sido colocada deitada e outra de ponta-cabeça.

Fica na 13 Yerebatan Cad. e funciona diariamente das 9h00 às 18h30. A entrada custa 10TL.

Caso você não pretenda ir a um banho turco, mas tenha curiosidade de saber como é dentro, já que fotos não são permitidas por razões óbvias, dizem que é possível visitar os Banhos de Roxelana (Haseki Hürrem Hamami). Neste local onde atualmente funciona uma loja de tapetes, Solimão construiu banhos privativos para a sua esposa, Roxelana. Nós como queríamos uma experiência autêntica, deixamos para ir a um banho propriamente dito (assunto de um post especial mais à diante). Se você quiser ir aos Banhos de Roxelana, fica na Ayasofya Meydani e funciona diariamente das 8h30 às 18h30. Passa lá e conta aqui como é!

Outro local interessante na região é a Coluna de Constantino (Çemberlitas) – na Yeniçeriler Cad.. A história desta coluna de 35m de altura, construída em 330 como parte das inaugurações da nova capital bizantina é cheia de fatos e mistérios de cunho histórico.

Reza a lenda que várias relíquias sagradas estariam enterradas na sua base, dentre elas o machado usado por Noé na construção da arca; um frasco de óleo de unção usado por Maria Madalena; e os restos dos pães com o qual Cristo alimentou a multidão. Caramba!!!

De tudo isso, o único fato comprovado é que ela foi trazida de Heliópolis no Egito e que como é possível qualquer leigo notar, ela sofreu diversas restaurações, algumas delas desastrosas.

O resto, fica por conta da sua imaginação…

A Coluna de Constantino.
No detalhe, dá para notar os “reparos”.

Assim como a maioria das cidades antigas, Istambul tinha o seu Hipódromo (At Meydani em turco). Diferentemente de Roma, onde ao menos a “pista” restou, quase nada sobrou deste que ficava no coração de Constantinopla no século 3º, em cujas arquibancadas cabiam 100mil espectadores.

Atualmente, ali está a praça Sultanahmet e seus dois obeliscos, um grego (479a.C. Delfos) e outro egípcio (de 1500a.C. Luxor).

Segundo a história do local, em 532 ocorreu aqui uma briga de torcidas de bigas que resultou em uma revolta popular (revolta de Nika), a qual só teve fim com o massacre de mais de 30 mil pessoas por mercenários do imperador Justiniano justamente dentro do hipódromo. Praticamente os precursores das torcidas organizadas e dos hooligans.

No próximo post, um pouco das mesquitas de Istambul.

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