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Conhecendo as mesquitas de Istambul

A imponente Mesquita Azul.

Para quem tem interesse em conhecer mais de perto um pouco do islamismo, a Turquia é o destino ideal para um primeiro contato, e garanto que você vai se encantar com as mesquitas de Istambul.

Não tive muitas experiências com países de costumes muçulmanos, é verdade! Mas nas outras duas experiências anteriores à esta viagem, uma curtíssima no Marrocos e outra mais longa em Jerusalém já aqui relatada, fui literalmente impedido de adentrar nas mesquitas. E olhe que estava trajado corretamente, fui fora dos horários das orações, tentei em vários dias / horários, e nada…

Bom, felizmente cada lugar um costume… e um grau de tolerância.

O fato é que a tolerância religiosa na Turquia, onde a maioria da população é muçulmana, e principalmente em Istambul, onde existem desde longa data minorias cristãs e judias, é algo admirável e que deve ser apreciado. E mais, respeitado pelo viajante.

E é justamente este caráter pacífico e de tolerância religiosa que permite aos turistas, seguidas algumas regras mínimas, conhecer ao menos um pouco do islamismo.

Não pretendo nestas despretensiosas linhas aprofundar o assunto religioso até porque não sou nenhum especialista na questão ou adepto da religião. Coloco-me apenas na posição de alguém que respeita e admira esta e outras tantas religiões.

Mesquita de Nuruosmaniye, que fica ao lado do Gran Bazar.

Os turcos, como outros islamitas, rezam 5 vezes ao dia. Normalmente as preces são feitas às 5h00; 13h00; 18h00; 20h00; e 21h30 no verão. Vale consultar o horário na porta das mesquitas.

Todas as sextas-feiras, por volta do meio-dia, os fiéis se reúnem na mesquita para a oração e para que após esta seja realizado o khutbah, um sermão que tem um tema mais amplo que o religioso, podendo variar entre  questões sociais, políticas e morais.

Embora não tenhamos visto isto tão claramente em Istambul, o comércio de origem árabe simplesmente fecha por tal período. Algo que era comum em Jerusalém.

Em Istambul, assim como outros países onde a religião islâmica predomina, é comum ouvir aqueles chamados típicos e belos onde os fieis são convidados a orar.

Antigamente, os chamados eram feitos pelos muezins servidores das mesquitas, que subiam no topo dos minaretes – nome dado às torres das mesquitas – e no gogó, como dizem os antigos, entoavam o chamado.

Hoje em dia, o muezin fala por alto-falantes ou, em alguns casos, uma gravação – eh, quase sempre a modernidade literalmente mata o charme de certas atividades…

Auto-falantes no detalhe do minarete da Mesquita Azul.

Mas o que dizem tais chamados?

O chamamento consiste em proferir a frase Allah hu Akbar (Alá é grande), seguida da chamada, a “profissão de fé” islâmica, através da qual se atesta que “não há outro Deus para além de Alá e Muhammad é o seu profeta“.

O chamamento é entoado de forma melodiosa, sendo necessário que as palavras sejam bem pronunciadas.

A primeira vez que se ouve isto é de arrepiar! Trata-se de algo para ser apreciado e respeitado.

Vou deixar aqui um trecho de um deles, gravado diretamente diante da Mesquita Azul (créditos Tod Witman) – detalhe, os pontos luminosos voando são andorinhas – já postamos uma foto nossa no primeiro post da série com este “show” delas.

Mas como visitar uma mesquita?

Normalmente os visitantes são bem recebidos nas mesquitas e a sua visita é mesmo algo diferente que merece ser feito.

Pode parecer poesia barata, mas em suma, siga as regras e as portas se abrirão…

Simples assim.

Eis aqui algumas regras básicas:

Evite o horário das orações e as sextas-feiras. Normalmente estas são restritas aos fiéis.

Vestimentas: as mulheres devem usar um véu ou xale para cobrir as pernas, mesmo que estejam usando calças cumpridas. Alguns lugares exigem ombros e cabelos cobertos. Chato? Que nada mulherada, aproveite isto como uma boa desculpa para comprar as belas (e baratas) pashminas. Faça como a Sra. Cumbicona, compre algumas e já saia usando. É verdade que nas duas principais mesquitas aqui destacadas eles oferecem alguns “panos” para tanto, mas porque não ter os seus???

Nas palavras da Sra. Cumbicona: “é bem melhor ter o seu próprio traje, ainda que improvisado”. 

Para os homens a situação é mais fácil, como sempre (Rsss). Eu estava de bermuda e camiseta e entrei tranquilamente – é verdade que eu tinha uma calça na mochila por precaução, mas nem precisou.

Deve-se tirar os sapatos para entrar. Portanto, nada de meia furada hein!

Geralmente eles colocam um tapetinho, bancos e um anúncio do tipo, “daqui em diante, sem sapatos”!

A entrada geralmente é por uma porta lateral ou por algum outro acesso especial para visitantes.

Fotos sem flashes são permitidas. Evite apenas fotografar eventuais fiéis que estiverem no local. Bom senso nunca é demais!

Tá vendo? Moleza! Agora você não tem desculpa para não ir.

Bom, se você esquecer estas regras, relaxe… tem sempre alguém na porta que pode te explicar o essencial. Rsss

Não sei se vocês sabem, mas do lado de fora de todas as mesquitas existem fontes (sidirvan) ou bicas d’ água onde os fiéis lavam a cabeça, mãos, braços e pés antes das orações.

Fiéis se lavam no exterior da Mesquita Süleymaniye.

Mas e se não tiver água disponível? Bom neste caso, segundo a tradição islâmica, ele deve fazer o ato simbolicamente utilizando-se de areia ou terra (tayammum).

Este ritual, chamado de Ablução ou Abdesto é um ritual de purificação que o muçulmano deve fazer antes das suas orações. Se você tiver oportunidade de observá-lo, faça-o (à distância e discretamente é claro), pois é interessantíssimo.

A água tem um papel de grande relevância para os muçulmanos. Segundo o Alcorão, a água representa a fonte da vida. Vocês se lembram que o Palácio Topkapi é cheio de fontes?

Mesmo pelas ruas, algumas belas…
…outras não, as fontes para ablução se multiplicam.

Já dentro de todas as mesquitas algumas características bastante típicas se repetem.

A primeira delas é que não existem, como nas igreja católica ou templos de outras religiões, representações de formas humanas ou de animais. Em linhas bastante gerais os muçulmanos não consideram tais representações puras o suficiente para serem feitas no interior das mesquitas.

Repare que diversamente das igrejas católicas, os vitrais das mesquitas não trazem representações humanas – na foto, vitrais da Mesquita Azul.
Note que os vitrais da Mesquita Azul têm importante função de trazer a luz natural para o ambiente.

A decoração interna não tem nada de rebuscado ou exagerado.

Belos vitrais dividem espaço com as caligrafias e com os  azulejos azuis trabalhados nos quais costuma-se ainda utilizar a pintura de padrões de tulipas que seria um anagrama para Alá.

Na Mesquita Azul, por exemplo, os padrões são variados.
Mas os mais conhecidos são estes florais.

As caligrafias são resquícios da tradição dos calígrafos, artistas que eram responsáveis por redigir o Alcorão de forma elegante. Lembram-se daquelas vistas na Santa Sofia? É exatamente aquilo.

Este, na Mesquita Azul, significa Alá. Ao menos isto eu aprendi em árabe…
Este, na mesma mesquita, nem me pergunte! Chego a duvidar que alguém consiga ler esta verdadeira obra de arte. 

No geral, as mesquitas são enormes e com grandes espaços internos para dar-nos a sensação de enlevação. Eu garanto, funciona!

Bom… às vezes também serve para as crianças brincarem… (interior da Mesquita Azul)

Homens e mulheres oram separadamente, ou ao menos separados por um biombo. Ah, importante: esta regra é apenas para as orações, portanto turistas de ambos os sexos ficam juntos. 

As mesquitas não tem altar como as igrejas. Elas têm um mihrab, um pequeno nicho na parede que indica a direção de Meca, para onde os muçulmanos têm que se curvar no momento da reza.

Mihrab (à equerda) e o minbar (à direita) na Mesquita Azul.

Mas porque eles rezam voltados para Meca? Bom foi lá que Maomé nasceu e é onde está a Caaba, o santuário sagrado construído por Abraão.

Mais um detalhe, a posição de reza visa demonstrar a humildade perante Alá.

Um detalhe interessante é que a maioria das mesquitas têm seu chão coberto por um carpete decorado, como este da Mesquita Azul. Pouco higiênico?
Que nada! Fiz questão de colocar esta foto com zoom para mostrar os detalhes e a limpeza.

A esta altura você já deve estar pensando bom que mesquita visitar?

Se você pretender visitas todas as mesquitas de Istambul, é bom já prorrogar o seu voo de volta… Eu não contei, mas arriscaria dizer que a quantidade delas em Istambul é a mesma de igrejas em Roma.

Então, escolha as mais interessantes ou as principais.

Eu particularmente recomendo como essenciais a Mesquita Azul e a Mesquita de Süleymaniye que já lhe darão uma boa noção do que é uma mesquita. E que noção!

A Mesquita Azul vista da praça Sultan Ahmet.

Situada diante da Santa Sofia, e praticamente rivalizando com esta a atenção daqueles que passam pela praça Sultan Ahmet, fica a Mesquita Azul (Sultan Ahmet Camii).

Antes da entrada, um belo jardim.
Ai sim, o portão de entrada dos fiéis à esquerda e dos visitantes à direita.
Anexo à mesquita, um belíssimo pátio.

Construída entre 1609 e 1616 pelo arquiteto Mehmet Aga, é uma das construções religiosas mais conhecidas do mundo, sendo a única mesquita de Istambul que possui seis minaretes – este fato gerou muita polêmica na época porque diziam que a sua grandiosidade e seus seis minaretes buscavam competir com a arquitetura de Meca.

Interior da Mesquita Azul.
Repare na grossura das colunas.
Tem até pia para abluções.

O nome vem do fato de boa parte da decoração interna ser em azulejos azuis (mosaicos azuis de Iznik – vide fotos acima). Mas ela também é conhecida como a Mesquita do Sultão Ahmed, que foi o governador no período de sua construção.

Ao todo são 260 janelas e 36 cúpulas por onde entra uma excelente iluminação natural. Dentro, são mais de 20 mil azulejos de Izmir que decoram colunas e arcos.

O pé direito é enorme.
Um convite ao torcicolo dos visitantes.
Também…com tantos detalhes no teto
Não falta o que apreciar. Estes “fios” sustentam o enorme lustre central.

Como a maioria das mesquitas, ela tinha sua própria Medersa (escola religiosa que ensinava o Corão).

Aliás algo interessante é que boa parte das mesquitas que vi em Istambul – não sei se isto se repete em todos os lugares – é que elas tinham cozinhas, escolas e hospitais anexos.

Fiquei com a clara impressão que o islamismo tem uma fortíssima atuação no campo social. Basta notar que pela cidade se vê sim pessoas humildes, mas miseráveis não. É de se admirar.

E para admirar, às vezes a melhor opção é fazer como esta galera: sentar no chão.

Para visitar a Mesquita Azul, anote ai: fica na Meydani 21 (praça Sultan Ahmet), e funciona diariamente das 9h00 às 17h00 (evite apenas os horários das orações). A entrada é gratuita.

Outra mesquita importante é Mesquita de Süleymaniye (Süleymaniye Camii). Construída entre 1550 e 1557 e fundada por Solimão, o magnífico, guarda o seu mausoléu.

De tão grande, não cabia na foto…
Talvez assim dê para dar uma ideia do tamanho, e principalmente seu enorme minarete.
Detalhe do enorme minarete. Definitivamente o muezin não podia ter medo de altura!

Como outras, contava com um hospital, escola e uma cozinha que servia diariamente mais de mil sopas aos pobres, de todas as religiões – hoje ali funciona um restaurante e um bazar. A renda deste último é revertida para as obras sociais.

Do lado de fora, as antigas instalações da cozinha.

Em uma área ao lado dos jardins está o túmulo de Sinam, o seu arquiteto e o mais conhecido da Turquia, com 131 mesquitas construídas e outras 200 edificações.

A entrada aqui é pela frente mesmo.
O amplo interior e o típico lustre que encontramos usado na maioria das mesquitas.
Detalhe ao Mihrab no fundo.

A cúpula tem 26m de diâmetro e o dobro de altura, dando uma sensação de paz e amplitude ao visitante. Aliás, seu amplo interior comporta aproximadamente 4.500 fiéis simultaneamente.

Um detalhe curioso: o desenho do tapete demarca na área vermelha o espaço necessário a cada fiel.

Seus minaretes, têm 74m. Coitado domuezin que tinha que subir lá!!!

Reza a lenda que algumas de suas colunas internas teriam sido trazidas de lugares famosos, como do Templo de Zeus, em Baalbek (Líbano); de Alexandria (Egito) e do interior do Palácio Topkapi.

Detalhe às belas inscrições no teto.
E às charmosas “lanternas” que formam o lustre.

A Mesquita de Süleymaniye fica na Prof. Siddik Sami Onar Cad. e funciona diariamente das 9h30 às 16h30.

Nós particularmente ficamos com estas duas, mas se você tiver tempo e interesse no assunto, deixo aqui a dica de outras três que estão entre as principais:

Construída em 1571, a Mesquita de Sokollo Mehmet Pasa (Sokollu Mehmet Pasa Camii) tem um interior primoroso, principalmente o seu mihrab que é coberto de azulejos Iznik. Na parede da entrada, existe uma pedra esverdeada que dizem ser parte da Caaba de Meca. Fica na Sehit Çesmesi Sok.

Figurando entre as mais belas da cidade, a Mesquita de Rüstem (Rüstem Pasa Camii), construida em 1561 tem seu interior ricamente decorado com azulejos. Fica na Hasircilar Cad.

A Mesquita de Nova (Yeni Cami), situada próximo à ponte Gálata começou a ser construída em 1597 e foi terminada apenas em 1663, tinha antigamente no interior do seu complexo diversas instalações, que iam de hospital, escola e até banhos públicos. Fica na Yeni Cami Meydani.

A Mesquita de Nova (Yeni Cami).

No próximo post, vamos à região de Gálata.

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