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A Muralha da China: não volte de lá sem visitá-la!

A Muralha da China: imagine um dragão serpenteando as montanhas remotas, atravessando uma nação…

Ok, pode até parecer poesia barata, mas esta é uma forma razoável de descrever esta que é uma das Maravilhas do Mundo e o símbolo maior da China

A minha primeira ideia de Muralha da China me leva à minha infância, quando íamos num restaurante chinês chamado “A Muralha” aqui perto de casa. Além da deliciosa comida (saudades daquelas frutas carameladas), eu ficava fascinado com a decoração impecável do lugar e principalmente com um enorme quadro retratando aquilo que às vistas de uma criança era apenas um “muro”.

Lembro de olhar e pensar algo do tipo: “Ah!!! Até parece que é tão grande assim”. Mal sabia que muitos anos depois teria a prova.

Não é grande, é gigantesca!

Sobe e desce pelas montanhas.

Viajar não é uma partida de War, mas na minha opinião a Muralha da China é sim algo que todo viajante deveria marcar na lista de desejos e no seu mapa de viagens. Como sugere o título deste post… Não volte de lá sem visitá-la!!!

Muito se discute a respeito da real função desta enorme estrutura, aliás a maior coisa já construída pelo homem.

Uns acreditam que ela teve uma função de defesa frente aos mongóis que vinham do oeste; outros defendem que ela serviu como uma forma de demarcar fronteira.

Particularmente custo a acreditar que alguém mandaria construir uma estrutura tão grande apenas para demarcar fronteira. Ademais, as duas funções são mais do que complementares. Agora uma coisa é fato, ela serviu e muito bem, como uma espécie de estrada, afinal era possível passar ali com cavalos e pequenas cargas.

Algo utilíssimo se levarmos em conta que ela passa por algumas porções de território extremamente acidentadas.

Ao longo da sua extensão, várias torres fortificadas. 

O interior de uma das torres.
Quem viu o post da Cidade Proibida deve lembrar destas figuras.
Entradas, evidentemente só do lado interno.

Aproveito para desmistificar um mito. Por maior que a Muralha da China seja, a estória de que ela pode ser vista do espaço é lenda. Ora, basta pensarmos que mesmo sendo muito extensa (mais de 6mil km), ela não é larga o suficiente para ser vista a olho nu como pretendem alguns.

Agora um mito que a maioria dos historiadores costuma confirmar é que ela seria o maior cemitério existente. E lamentavelmente faz sentido. Como a maior parte dos trabalhadores responsáveis pela sua construção eram prisioneiros de guerra, aqueles que morriam nas obras eram enterrados ali mesmo, junto ao pavimento e pedras.

Estima-se que aproximadamente 1 milhão de operários morreram na obra. Bizarro!

Fiquei imaginando a desgraça que foi trabalhar numa obra destas, num terreno tão rústico sem ganhar nada, quanto menos direito a EPI, FGTS, seguro saúde e etc. Humor negro On.

Outra questão que considero importante ressaltar é que a maioria daqueles que viajam à China acabam por ver trechos da Muralha que foram recentemente – dada a idade dela – restaurados. Os trechos de Badaling; Mutianyu; e Juyongguan Pass são os mais bem conservados, e consequentemente os mais visitados.

O mapa do complexo de Mutianyu, uma das melhores áreas para ver a muralha.

Embora seja possível caminhar para ambos os lados, o trecho à esquerda da entrada é o mais interessante.

Algumas pessoas criticam tal fato, alegando que isto tiraria o charme e seria algo “artificial”. Discordo!

O restauro, muito bem feito por sinal, parece não ter retirado o seu ar histórico e nos possibilita ver como ela era no passado.

Além disso, a maior parte os trechos não restaurados está em péssimo estado de conservação. Já vi fotos de alguns destes e mal dá para identificá-la como sendo a Muralha da China. Um exemplo extremo disto são as áreas nas quais ela cruza uma região mais desértica, onde o pouco que sobrou está praticamente encoberto pela areia.

Dizer quando a Muralha da China foi construída é algo muito relativo. Isto porque embora a sua construção tenha começado em 220 a.C., ainda pelo Imperador Qin (o mesmo dos guerreiros de terracota), ela foi ampliada nos 1000 anos seguintes.

Na extensão da Muralha, vocês verão várias torres de observação. Segundo historiadores, era ali que os vigias faziam fogueiras para indicar o perigo das invasões. Havia inclusive uma espécie de código: uma fogueira ou um sinal de fumaça significava 100 homens; duas 500, e três mais de 1000. Hum… sei … Quem ficava contando???

Este ai ficou perdido no tempo.
Os reparos são praticamente artesanais.
Nos arredores de Beijing a Muralha percorre um terreno bastante acidentado.
Várias vezes fiquei me perguntando como estes caras conseguiram.
Sua largura permitiu que ela servisse como uma eficiente via de acesso a áreas remotas.

Bem, chega de história. Como isto é um blog de viagens, vamos às dicas práticas para você curtir o seu passeio.

Uma das maiores preocupações é como chegar à Muralha da China. Digo isto porque ela não fica exatamente em Beijing. Ela está nos arredores da cidade (entre 50 e 70km), como vocês podem ver no mapa abaixo: 

Visualizar Cumbicão – China em um mapa maior

Em sã consciência eu jamais recomendaria como primeira opção um tour à Muralha. Se vocês fizerem uma rápida pesquisa nos blogs que tratam do destino, notarão que a exemplo do conceituado Lonely Planet ninguém recomenda este tipo de passeio. Esta seria a minha primeira dica.

O motivo? Além de caros (aproximadamente RMB380), estes tours passam pouquíssimo tempo na Muralha – a maior parte do período é gasto em lojas ou outras atrações de menor
importância.

Para uma visita decente, sugiro separar ao menos meio período. Em segundo lugar, eles sempre te levarão nos lugares mais lotados e nos horários mais cheios.

A Muralha sem a China inteira lá (e no verão). Sim, isto é possível!

Não digo que eles não sirvam para ninguém, pois para alguém com mais receio ou que simplesmente não esteja acostumado a viajar de forma independente, eles podem ser sim uma forma segura e confortável de visitar a Muralha da China. Compreendo e respeito. Mas se puder, fuja deste esquema.

Se mesmo assim pretender ir num tour, sugiro a Beijing Hikers. Embora não tenha usado este tipo de serviço, eles têm boas referências no Lonely Planet e em alguns blogs brasileiros.

Em 2004, quando na minha opinião a China não era tão bem estruturada quanto hoje, até tentamos ir de ônibus, mas na hora do embarque, próximo à estação central, acabamos desistindo pela confusão pré-embarque. Uma zona.

Resolvemos então ir de táxi. Fechamos um preço com o sujeito e ele nos esperou durante todo o passeio, acho que por umas 3 ou 4 horas. Apesar do inglês praticamente ininteligível do nosso taxista (aquele do “Pili”), o passeio foi incrível.

Outra opção, e na minha opinião a mais conveniente, é o esquema de motorista particular citado mais abaixo.

Bem, mas vamos à questão prática de como chegar aos pontos mais visitados da Muralha:

Badaling* (八达岭长城 / 八達嶺長城 / Bādálǐng Chángchéng) foi o trecho que visitei em 2004. Trata-se de um trecho cuja construção teve início em 1368, e seguiu sendo fortificado nos 200 anos seguintes. Com quase 4km de extensão, é o mais visitado da Muralha.

Badaling também tem teleférico.

Momento: cadê o engenheiro??? 
Apesar da pouca neve, um dos piores frios que já passei.

Situada a 70km de Beijing, atualmente esta seção é acessível via trem a partir da Estação Beijing North.

Caso opte por ir de trem, sugiro atenção a alguns pontos essenciais apontados pela Adriana Miller e que me levaram a descartar esta opção de transporte nesta última viagem.

A viagem leva não mais que 40 minutos e custa aproximadamente RMB 6 cada trecho, portanto infinitamente mais em conta do que qualquer outro meio de transporte.

Como não existem muitas indicações em inglês na estação de trem, vale aqui a regra de ter as
instruções e endereços num papel em chinês.

É… a idade do blogueiro entrega… Quase 10 anos da visita a Badaling.

Para quem quiser ir de ônibus (esquema que tentei na primeira viagem e ainda vigente), eles saem a cada 10 minutos entre as 6h00 e 9h00 da Old Gate of Deshengmen, ônibus número 919 (ônibus rápido), e o último volta às 18h00. A viagem leva 1h30 e custa em torno de RMB12 cada trecho. Existem também outras opções de ônibus: Tourist bus No. 1 at Qianmen; Tourist bus No. 2 at Beijing Train Station; Tourist bus No. 3 at East Bridge; Tourist bus No. 4 at Xizhimen Gate.

Algumas partes são bem íngremes.
Naquela época tinha até um tobogã.

Naqueles tempo, poucas bancas. Hoje devem existir várias.

Particularmente, achei este trecho bem interessante, conservado e com boa infraestrutura.

O horário de funcionamento é diariamente das 6h30 às 19h00.

Situada a 79km de Beijing, Mutyanu* é uma das áreas mais bem conservadas, e também uma das menos conhecidas do público em geral, o que é muito interessante pois com um pouco de sorte você pode ter a Muralha (quase) só para você.

Este trecho da Muralha tem 2250m de comprimento e conta com uma boa quantidade de torres de observação, o que permite vistas incríveis para todos os lados.

O estado de conservação é excelente, e os trechos por onde se caminha são de fácil acesso.

O único trecho mais complicado e que exige esforço maior é a área mais elevada que
fica à esquerda de quem entra pelo acesso principal.

Isto porque no final do caminho existe uma porção mais elevada (uns 300 metros mais alto que a base), na qual se tem a torre de observação mais alta de Mutyanu. Chegar lá pode não ser muito fácil por conta dos degraus estritos e altos demais. Mas eu garanto, a vista compensa o esforço.

A subida parece não ter fim.
E no final, tem-se a impressão de que fica mais difícil ainda.

Lá embaixo, a entrada do complexo.

Só para dar uma idéia da caminhada, fomos até a sexta torre.

Se não quiser caminhar, sugiro sentar-se em uma das janelas das torres e apreciar a vista.

Este trecho teve a sua construção iniciada no século VI, mas foi fortemente ampliado e restaurado durante a dinastia Ming (1368 – 1644), o que faz ele parecer mais novo que Badaling.

O acesso da base na qual está situada a bilheteria até a Muralha propriamente dita, é feito por cable-car, no mesmo esquema que Badaling. Quem quiser pode ir a pé. Sinceramente, acho que não vai ser fácil a caminhada até lá em cima!

Subir a pé não deve ser fácil não.

A pequena gôndola lembra muito a de Santorini.

Na base, vocês encontrarão uma infinidade de bancas nas quais são vendidos souvenires de tudo quanto é tipo, inclusive camisetas com os previsíveis dizeres “I Climbed the Great Wall”. Quero ver vocês resistirem! Por falta de uma tenho uma de cada viagem!!!

Ah, em tempo… Preciso dizer para vocês não aceitarem o primeiro preço e pechincharem muito, mas muito mesmo? Não tenham vergonha, senão certamente pagarão muito mais do que poderiam ter pago.

É tanta barraca que quase não sobra espaço para passar.

A única “desvantagem” deste trecho da Muralha é que não há acesso via trem.

Todavia o site Travel China Guide dá uma dica de como ir de ônibus: ‘The most convenient way is taking Tourism Bus No. 867 at Dongzhimen. One can take Bus No.106, 107, 123, 132, 206, 24 etc or Subway Line 2, Line 13 and Airport Express Train to Dongzhimen. a. Visitors could take Tourism Bus No.867 at Dongzhimen Outer to Mutianyu directly in about 2.5 hours. The bus leaves from Dongzhimen Outer at 07:00 and 08:30 and comes back at 14:00 and 16:00. The bus ticket for a single trip is CNY 16 by cash and CNY6.4 by using Beijing Transportation Smart Card. Please note that the Tourism Bus No.867 is only available during the high season (usually from late March to November 15th). b. Visitors could also take one of the Buses No. 916 or 916 (express line) which go from Dongzhimen to Huairou Bus Station first, get off at Qingchun Lu Beikou, Huairou Bei Dajie or the terminus and then hire a mini-bus to Mutianyu. The Bus No. 916 (express line) is recommended and its duration time is about 60-70 minutes. The mini-bus ride takes about CNY30-40 and 20 minutes; one can also share the mini-bus with others to save money. Notes: Bus No.867 and 916(express line) depart from Dongzhimen Transport Hub in Dongzhimen Waixiejie, which is about 10 minutes’ walk from Dongzhimen Subway Station (Exit B). Bus 916 can be found in the bus stop close to Exit B of the subway station.”

Como a Sra. Cumbicona estava grávida e eu não queria passar pela trabalheira que foi chegar lá como em 2004, ainda mais sob o escaldante calor que fazia (acima dos 34C), optei por contratar um motorista particular.

Foi uma das grandes escolhas durante a viagem; e na China, o melhor negócio que fiz – perdão pelo trocadilho!

Depois de ler alguns reviews no TripAdvisor, resolvi entrar em contato com o John, na verdade é Zhang Yong Xin – mais fácil John mesmo:). Ele é um ex-taxista que conhecendo muito bem a cidade e após aprender inglês (muito bem por sinal) decidiu largar o taxímetro e prestar serviço de motorista-guia aos turistas.

A tranquilidade de um “tour” privado.
Para que você possa avisar o John que o seu passeio acabou e que é para ele te pegar, ele fornece um celular pré-programado para você chamá-lo. Nota 10! 
E o carrão dele ai.
E ele conosco! Ele adora tirar fotos com os clientes.

Fiquei tão impressionado com a simpatia e o profissionalismo do sujeito que tive a certeza de que se todos os chineses fossem como ele, já teriam dominado o mundo no melhor estilo.

Com um carro novo, confortável e impecável, Jonh nos ensinou várias coisas interessantes não só sobre a história da China, como também sobre o dia-a-dia dos chineses. O cara é muito bom de conversa.

Você não é lá muito de papo? Não tem problema, se ele perceber que você está cansado durante a viagem (o que aconteceu conosco na volta), ele simplesmente coloca algumas músicas e te deixa relaxar (leia-se dormir!).

Para quem quiser marcar um tour com ele, deixo os contatos: johnyellowcar@hotmail.com / www.beijing-driver.com (telefone 0086 13611079697 / 0086 13683040566). Pagamos por um tour de quase um dia o valor de RMB 800 (uns R$300). Ele também faz outros itinerários, inclusive personalizados.

Um detalhe importante é que se vocês puderem, marquem uma saída bem cedo – ele mesmo talvez recomende isto. Assim vocês fogem do trânsito caótico e chegam na Muralha antes da maioria dos turistas.

Este pequeno “sacrifício” valeu muito a pena e nos possibilitou aproveitar muito mais o passeio, além de termos fotos sem ninguém (ou quase). Algo raro em termos de China.

Muralha da China
Muralha da China

Ah, ia me esquecendo. Dependendo da cidade de onde você for, ele pode te pedir para levar uma caneca do Starbucks para a coleção dele. Kkkk. Resultado, rodei o mundo com uma caneca de São Paulo na mala toda embrulhada para não quebrar. Claro que ele queria pagar pela caneca, mas a sua simpatia impede qualquer um de sequer pensar em cobrá-lo!

Enfim, para quem quiser segurança, conforto e tranquilidade, eu recomendo.

Quem preferir ir até lá usando um táxi comum o preço médio é de uns RMB600 para ir-esperar-voltar para Beijing. Sempre, sempre negocie e feche o preço antes.

O horário de funcionamento é diariamente das 7h00 às 18h00, o ideal, como dito, é chegar cedo. 

Tanto em Mutyanu quanto em Baddaling os ingressos, que são comprados no local, custam o mesmo valor: RMB40 (cada). Pelo teleférico são mais RMB80 (ida e volta). Vale sempre conferir os valores atualizados nos links acima citados.

Fora estas duas opções, ainda tem Juyongguan Pass um trecho situado a 59km de Beijing. Trata-se de uma área típica por suas belas construções de madeira. Como é relativamente próxima de Badaling, dizem que é possível utilizar a mesma forma de transporte, porém pegando-se um taxi na estação local.

Quase tão grande quanto a Muralha é a dúvida: qual dos trechos visitar???

Para mim é um pouco difícil comparar os dois trechos visitados não só por conta das visitas estarem separadas por quase 10 anos, como também por terem sido visitados em estações distintas, o que muda muito a paisagem: Badaling no inverno e Mutyanu no verão passado.

Mesmo assim, pelo fato de que Mutyanu tende a ser menos cheio (vazio é um conceito que não existe na China!), eu prefiro este trecho em relação à Badaling.

O resto é gosto. Então, anote ai, uma vez em Beijing, não volte de lá sem visitar a Muralha da China!

* os links citados não são oficiais, mas valem a visita.


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4 comentários

Stefanie 20 de fevereiro de 2017 at 08:08

Olá! Vou para Pequim em Maio e achei seu blog muito interessante com preciosas dicas! Parabéns!

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Motociclista Investidor 27 de julho de 2016 at 01:01

Muito bom o post, ficarei 3 dias em Pequin, obrigado pelas dicas, irei com o John até a muralha. Se quiser dar uma olhada em minhas viagens, quem sabe não acha algo de útil pra vc, abraços : semfronteiras29.com

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fabiola occ 9 de setembro de 2015 at 01:21

olá! Amei as dicas!! Irei com o motorista de vcs!! Só terei 2 dias em pequi, daí um dia será para a muralha e outro para a cidade proibida, vcs tem algum dica a mais? Obrigada!

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Diogo Ávila 9 de setembro de 2015 at 01:34

Fabiola, se você puder, diga para o Johnny que o achou aqui!!!
Dois dias bem aproveitados dá para tem uma boa noção de Beijing sim, basta que você se programe bem para cada dia, esta seria a dica extra.
Boa viagem!!!

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