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Que não percamos a paixão por viajar e voar

Dia destes li um belíssimo texto da Nellie Huang do Wild Junket (se você não conhece, deveria!) onde ela fala da perda do encanto por viajar e voar me fez refletir um pouco a respeito. Retratando como eram as viagens quando criança e como ela as vê atualmente, ela se pergunta onde o encanto foi parar.

Convenhamos, atualmente vivemos em um mundo altamente focado e automatizado, onde, na busca de metas pessoais e profissionais, não raras vezes deixamos passar desapercebido pequenos e até grandes prazeres da vida.

Retrato como exemplo uma cena que vimos numa praia paradisíaca na Tailândia: a garota chegou àquela linda praia; olhou rapidamente ao seu redor, como quem tira uma foto panorâmica; sacou o celular e tirou uma foto. Sentou-se para postar a foto em alguma rede social e de lá levantou-se sem ao menos olhar para trás e apreciar os tons de verde-azulados do mar; as rochas que dali pareciam brotar; sentir o frescor do vento; ou ainda dar um mergulho.

O que será que ela realmente lembra daquela paisagem? Será que ela conseguiu vivenciar o momento ao ponto de registrar na memória aquilo que ela viu meio que num flash. Será que ela aproveitou aquele lugar para o qual provavelmente ela voou horas e nunca voltará? Provavelmente não.

A moça simplesmente ignorou A Praia!

Tive a impressão que ela foi lá fazer uma espécie de check-in, como quem faz uma gincana a lá The Amazing Race e passa pelos pontos de controle ticando coisas em uma lista qualquer, ignorando a história, os costumes e a riqueza da cultura local.

Longe de mim querer fazer campanha contra o mundo digital, afinal sem ele não estaríamos aqui, mas vamos combinar que a maioria das pessoas foca seu tempo e esforços em tirar foto e compartilhar nas redes sociais não para mostrar a felicidade de estar ali, mas sim para mandar uma mensagem do tipo eu estive aqui, ali e acolá. Mas e aproveitar a viagem? Viver a experiência?

Isto para não falar nas maratonas de loja em loja para comprar artigos Made in China que são vendidos em qualquer lugar ou visitar shoppings que são praticamente iguais em todo o mundo, deixando de lado aquele típico mercado ou aquela feira de pulgas tão tradicional.

É neste momento que me questiono: Seria hoje viajar um jogo de tabuleiro disputado no Google Maps ou uma experiência de vida cheia de lembranças e sensações?

Conversando dias destes com a Sra. Cumbicona, nos demos conta que muitas vezes, meio que do nada, a nossa mente se esvazia e somos meio que teletransportados para algum lugar visitado. É uma coisa sensorial muito louca onde além de rever a cena, todas as sensações do momento vêm à tona. 

É até difícil de explicar em palavras, mas quem já passou por isso, seja lá com que tipo de experiência sabe do que estou falando.

Não pensem que estamos falando de grandes atrações não. Muitas vezes estas sensações são de lugares sem nada de mais, como uma rua pela qual caminhamos, um mercado pelo qual passamos e por ai vai. Cheiros, gostos, conversas e até pensamentos voltam à tona de forma incrivelmente espontânea.

É como se determinados trechos da viagem ainda estivessem vivos na nossa mente.

Particularmente, acho que este é um dos souvenires de viagem mais preciosos que podemos ter.

É, nestes tempos voar era mesmo mais romântico.

E viajar de avião então? Como bem apontado pela Nellie Huang, muitos viajantes, mais preocupados com os eventuais inconvenientes como atrasos, inconvenientes a bordo, ou a simplicidade da experiência a bordo imposta pela redução de custos, têm o avião mais como um meio de transporte qualquer do que como uma experiência em si.

Diz ela que quando criança viajar de avião era um acontecimento e tanto, um daqueles eventos ansiosamente aguardado.

Mesmo quase 30 anos depois do meu primeiro voo, ou ao menos do primeiro que me lembro, tento dentro do possível preservar a mesma empolgação e curtição.

Depois de vivermos por 6 meses no Japão na virada da década de 70 para 80, ficamos uns 7 anos sem viajar de avião. Até que um dia meu pai chegou em casa com um pacote de viagem para o Nordeste.

Lembro como se fosse hoje. Ansioso, dormi no sofá e com a roupa que já iria viajar. Preciso dizer que a ansiedade não me deixou dormir???

Ainda na madrugada, meu querido e saudoso tio Salvador foi nos buscar em seu Diplomata (eu achava o máximo aquele carro – #CoisaChique) para nos levar para Cumbica – sim, iniciava-se uma paixão!!!

Da movimentação frenética do aeroporto, aos procedimentos de embarque, tudo era novidade. Caminhar pela pista e ver de perto aquele enorme avião então, foi uma sensação única.

Só mesmo o sono da noite mal dormida para me fazer  desgrudar a cara da janela do avião. Aliás, até hoje a janelinha é minha. Mas prometo entregar ela para o Cumbiquinho assim que ele tiver seu próprio assento!

E para fechar com chave de ouro a experiência, os comissários da VASP nos convidaram para visitar a cabine de voo em pleno cruzeiro. Imagina a alegria da criança?!?! Uma pena que as circunstâncias atuais tenham banido em definitivo esta oportunidade.

Ainda que hoje seja muito mais comum viajar de avião do que anos atrás graças à redução do preço das passagens aéreas, será que realmente precisamos ser tão chatos ao ponto de não curtirmos a experiência como ela merece?

Não sou lá muito diferente das demais pessoas não, e pensando nisso tenho me policiado cada vez mais para não cair nesta triste armadilha.

Dentro do possível, tento ao máximo aproveitar a experiência como 30 anos atrás.

Antes de pisar no avião, sempre toco a fuselagem como quem diz: “E lá vamos nós!” Curto aquele frio na barriga típico de quem está prestes a vivenciar algo novo e cheio de desafios que já começa lá na entrada da Rodovia Hélio Smidt que dá acesso a Cumbica. Enfim, vejo cada embarque como o começo de uma aventura, de uma experiência que foi muito desejada, planejada e que deve ser curtida a cada segundo para que fique gravada não só ao bater de cada foto, mas antes de mais nada na nossa memória.

E ai? Como de fato vocês vivenciam uma viagem? E voar? São da turma que acha que voar é apenas um meio de chegar lá ou curtem a experiência como parte da aventura? Conte-nos como foi o seu primeiro voo.

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5 comentários

Carol Duque 10 de maio de 2019 at 15:21

Adorei o texto! Tb me identifiquei em vários momentos. Quando fiz 9 anos pedi aos meis pais de presente uma viagem de avião e foi inesquecível. Lembro de todas as sensações vividas e depois de tanto viajar acho q perdir um pouco dessa alegria em estar voando. Outra coisa que também tenho feito é tentar não planejar muito meus dias de viagem, pois antes fazia passo a passo do meu dia, colocava mil atrações e quando eu nao conseguia fazer tudo ficava triste ou irritada por não conseguir. Amo fotografar e isso é uma forma de aproveitar a viagem para mim, mas nao me coloco mais na obrigação de conhecer tudo. Prefiro conhecer em menor quantidade, mas em profundidade. Esse texto me fez refletir ainda mais sobre o tipo de viajante que eu quero ser e que eu já fui um dia. Muito obrigada por compartilhar!

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Diogo Avila 10 de maio de 2019 at 17:27

Adorei Carol.
Aos poucos precisamos ir resgatando os nossos sentimentos a respeito disso para não perder esta sensação maravilhosa que é viajar.

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Anônimo 29 de agosto de 2015 at 23:19

Excelente texto! Assim como vc, vivencio cada momento da minha viagem desde o planejamento até o retorno. Lembro de minha primeira viagem internacional quando finalmente conheci Paris. Cidade que visitei inúmeras vezes através das páginas de revistas. Quando entrei no Louvre, chorei! Chorei por ver meu desejo materializado, por poder conhecer de perto a historia através de obras de arte e artefatos. Ao sentar em um dos bancos em um longo corredor, olhei para o teto e me emocionei com a beleza de sua pintura, enfim com a grandiosidade daquele lugar. Uma experiencia rica e inesquecível. Infelizmente, alguns preferem "ticar" o lugar visitado. Não sabem o que estão perdendo!
Um abraço de sua leitora assídua,
Denise

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Oigres 20 de agosto de 2015 at 14:52

Parabéns gostei muito. E tb do mentário de Luiz Gustavo. Ontem mesmo vendo um documentário "Nixon no dia que o homem pisou na Lua", e me dei conta que naquele dia pela primeira vez estava no Rio, depois de ter pela primeira vez cruzado as fronteiras de SPaulo, indo a Salvador de navio (1a. vez em um barco). Consigo me lembrar de cada detalhe apesar dos mais de 45 anos já passados. Realmente, o melhor equipamento para guardar recordações é o cérebro no dado por Deus. Máquinas devem ser consideradas só como acessórios, como esta que estou usando agora. Abraços. Sérgio

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Luiz Gustavo 19 de agosto de 2015 at 23:48

Concordo plenamente! Quase que me vi fazendo esse texto, Diogo! Viajo muito, quase sempre por lazer, nos ultimos anos. Essa vontade de desbravar o mundo começou nos anos 80 (séc.20) kkk, quando trabalhei como promotor de vendas na saudosa VASP aqui em Brasília, na área Comercial, e desfrutava da benesse de, nas férias, receber uma carta (IATA 200) que encaminhava a uma cia aérea solicitando meu "bilhete" internacional, muitas vezes com 100% de desconto. Nessa brincadeira já visitei mais de 50 países em 4 continentes! Uso e abuso de Instagram,Facebook e similares,mas nada substitui o "respirar" e "cheirar" cada lugar visitado. Meditar e olhar sem pressa, enquanto ainda dá para curtir assim o "velho" e "novo"Mundo.
Excelentes viagens para nós!! (E parabéns pelo blog!)
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